Em 1830, enquanto o Brasil, aos poucos, tentava se libertar do regime
escravocrata, nos Estados Unidos a segregação racial ainda era muito
forte – os norte-americanos só aboliram a escravidão, oficialmente, 33
anos depois.
Foi na década de 30 do século XIX que, com 15 anos, o escravo Henry Brown foi enviado para trabalhar em uma produção de tabaco no estado da Virgínia,
nos Estados Unidos. Sua vida mudou quando conheceu uma escrava que
trabalhava na plantação vizinha, chamada Nancy. A história dos dois logo
se transformou em romance e, depois de um breve noivado, receberam a
permissão de seus amos para que se casassem.
Na medida do possível, vivendo uma rotina de trabalho árduo e
pouquíssimas recompensas, os dois viveram felizes e tiveram três filhos
juntos. Em 1848, quando Nancy estava grávida do quarto filho do casal, Henry
recebeu uma notícia que mudaria sua vida: sua mulher e filhos haviam
sido vendidos a um comerciante, junto com outros 350 escravos que
trabalhavam naquelas lavouras.
As súplicas de Henry para o dono da fazenda em que trabalhava não
foram suficientes e ele não pode fazer nada a não ser assistir enquanto
sua família era levada para a Carolina do Norte, estado vizinho, na
costa leste dos EUA. (Lembra de Django Livre?)
Depois de alguns meses de solidão, Henry decidiu que valia a pena
arriscar para conseguir a liberdade – afinal, ele não tinha nada a
perder. É ai que entra na história um dos planos de fuga mais
imprevisíveis que já existiu: enviar a si mesmo pelo correio.
Para executar a tarefa, ele precisaria de dois cúmplices – um
remetente e um destinatário para a aquela correspondência suspeita. Seu
destino seria o estado da Filadélfia, também próximo à costa leste
americana, mas mais ao norte de onde sua família estava. Ele contou com a
ajuda de seus parceiros James Caesar Anthony, um antigo escravo que
conseguira a liberdade, e um amigo dele, Samuel Alexander Smith, um
simpatizante da causa abolicionista. Ambos entraram em contato com a
Sociedade Antiescravista da Filadélfia para que alguém recebesse a
correspondência.
Em 23 de março de 1849, o plano entrou em ação: Henry Brown foi
colocado em uma caixa de madeira (que media 1 metro x 1 metro x 50 cm)
forrada com um pano grosso, da companhia Adam Express Company, com
destino à costa do norte dos EUA. A caixa continua os dizeres “produtos
têxteis”, e Brown levava consigo apenas alguns biscoitos e um cantil
com água.
Foram 27 horas de viagem – passando por carroça, trem e barco a vapor –
em que os transportadores não deram muita atenção ao aviso “Este lado
para cima”. Antes do amanhecer do dia 25 de março, a “caixa” chegou a
seu destino:
-Como estão, senhores? – disse, saindo da caixa. Naquele momento, o ex-escravo foi batizado como Henry “Caixa” Brown.
Por causa do êxito do plano, os amigos de Henry tentaram libertar
mais escravos “por correio”, mas foram descobertos e condenados a 6 anos
de cadeia. Brown se transformou em um símbolo da luta pela abolição dos
escravos – mas, em 1850, com a Lei dos Escravos Fugitivos, e o medo de
ser enviado de volta ao seu antigo “proprietário”, mudou-se para
Londres, de onde continuou trabalhando pela causa abolicionista. Ele
nunca chegou a reencontrar sua família, mas casou-se novamente.
Fonte: http://super.abril.com.br/blogs/historia-sem-fim/conheca-o-escravo-que-conseguiu-a-liberdade-enviando-a-si-mesmo-pelo-correio/?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super
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